Três-lagoense, negra, atleta de Seleção e recordista mundial: Silvânia chegou ao topo com humildade e determinação
"Se está fácil é porque alguma coisa está errada". Com esse pensamento, a recordista paralímpica mundial de salto em distância conseguiu muito mais do que pagar o leiteiro: ela passou por cima dos obstáculos, rompeu barreiras, ganhou todos os ouros - e não vai parar!
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A história de superação de Silvânia Costa começou na infância e nunca parou. Ela mesma diz que quando alguma coisa vem fácil não tem graça.
Cheia de energia como toda criança, a jovem atleta já participava de pequenas competições em sua escola e nos projetos sociais de que participava. No começo era apenas para fugir da realidade, onde sua mãe lutava contra a depressão e seu pai era alcoólatra.
Da menina que corria para brincar, Silvânia se viu divorciada, com uma filha para criar e desempregada. A grande preocupação dela era arrumar dinheiro para pagar o leiteiro e garantia o sustento de sua pequena.
Foi aí que o destino começou a sorrir para ela: vendo seu sacrifício, um amigo a chamou para competir em uma corrida de rua em Campo Grande. "Eu não tinha preparação nenhuma, mas precisava do dinheiro. E fui", lembra. No meio da prova, quando pensava em desistir, ela lembrava do leiteiro. "Pensava que eu não podia parar. Eu me esforcei demais no começo, não tinha nenhum treinamento, não me guardei para o final. Aguentei as dores, pensava no leite da minha filha e seguia correndo".
AS PRIMEIRAS VITÓRIAS
Surpreendentemente, ela venceu a prova - e garantiu os R$ 300 para pagar o leiteiro. Mas, depois, pagou caro: por uma semana ficou febril e internada, em decorrência do esforço físico.
Depois disso Silvânia mais uma vez tentou um emprego fixo mas todas as portas estavam fechadas para ela. Quando os boletos começaram a chegar e a conta do leiteiro voltou a subir, ela se viu, mais uma vez, às voltas com as corridas. Recorreu ao amigo e voltou às pistas - agora, em Brasília.
Sem dinheiro para nada, ela se "hospedou" na rodoviária da cidade, se alimentou de pão seco e suco instantâneo. Chegando na competição, sem treinamento e mal alimentada, ela se deu conta de que eram 8 mil inscritos. "Fiquei preocupada, mas vamos lá, né?", lembra.
Os 8 mil competidores ficaram para trás e ela trouxe mais um ouro - e R$ 500 para ajudar a pagar as contas.
A essa altura ela já havia se encontrado e sabia exatamente o que queria: seria atleta!
Em Três Lagoas ela começou a treinar na Lagoa Maior. Seu próximo - e maior - desafio seria a Corrida dos Reis, em Cuiabá.
O PRIMEIRO TÉCNICO
Com 12 mil inscritos e uma subida de 15 Km para ser percorrida, Silvânia conta que o que mais a castigava eram as altas temperaturas. "Em toda a corrida eu apenas pensava o quanto eu já havia corrido e que aquele dinheiro seria para o sustento de minha filha", recorda Silvânia.
Quando cruzou a linha de chegada novamente em primeiro lugar, ela teve a convicção que não pararia por ali: queria ser campeã mundial! Ela sabia que podia!
E bem ali, sentada na sarjeta após sua vitória, conheceu o primeiro treinador que acreditou em seu potencial. Ela a convidou para se mudar para Cuiabá para começar seu preparo. A primeira pergunta de Silvânia para ele foi: "Mas vocês pagam o leiteiro né?", conta a atleta, morrendo de rir ao lembrar do começo de sua carreira.
PRIMEIRA CORRIDA PROFISSIONAL
O que para muitos pode ser bobagem para Silvânia já era uma vitória. Ela morava em uma kitnet com sua filha sem geladeira nem fogão e aconselhava a filha a almoçar bem na escola, pois sabia que elas não teriam o que jantar. Acabavam comendo frutas que colhia em seu próprio quintal.
Nos treinos tudo era novidade para Silvania já que nunca havia usado sapatilhas especiais para corrida e nem pisado em uma pista emborrachada.
Em sua primeira corrida profissional no ano de 2013 em Fortaleza conquistou ouro na primeira etapa do nacional - e sua vontade de ganhar só aumentava. E mais uma vez a vida a surpreendeu e mostrou que ela estava no caminho certo.
MUDANDO DE DIREÇÃO
Ela queria ser recordista, ganhar o mundo, mas o técnico achava cedo para esses pensamentos. Então ela encontrou um treinador que estivesse alinhado aos seus desejos.
E esse novo treinador viu nela mais do que uma atleta de corrida: enxergou em Silvânia um impulso que a tornaria naturalmente apta a ser uma vencedora em saltos em distância, categoria em que está até hoje e lhe rendeu medalhas, recordes e títulos em várias partes do mundo.
O destino não tardou em mostrar que ele estava certo: em 2014, durante uma prova que disputou em São Paulo, quebrou seu primeiro Recorde das Américas na etapa nacional
SELEÇÃO BRASILEIRA
Silvânia sempre soube onde queria estar, e era no lugar mais alto do pódio. Hoje atleta do primeiro time da Seleção Brasileira Paralímpica de Atletismo, treina em São Caetano, tem seu apartamento próprio, os problemas financeiros deram um tempo, mas as batalhas continuam.
"Quando eu chego em casa e não estou exausta, vomitando de tão cansada, eu chego a ligar para o técnico para brigar, porque eu sei que não dei tudo de mim. Só fico feliz quando eu chego realmente sem aguentar mais", conta.
Não foram poucas as vezes que o destino testou a três-lagoense. Como uma vez, quando tentava ir para Doha, no Catar, para seu primeiro Mundial.
O APURO
Malas prontas, preparo físico em dia, tudo certo para mais um ouro em sua carreira quando de repente tudo deu errado.
Um erro de digitação fez com que Silvânia não conseguisse embarcar com a Seleção. "Foi um choque! Ir para o aeroporto, tudo pronto, e aparecer um problema de digitação no passaporte foi um balde de água fria", lembra.
Mas ela não desistiu: a Seleção pediu para ela um passaporte de emergência. Mais uma vez, malas prontas, agora vai, agora vai, agora vai... e DEU ERRADO! Agora era seu visto que tinha vencido.
O embarque de Silvânia só aconteceu na terceira tentativa. Desembarcou em Doha com um calor de 48°C, tempo seco, cidade que não via uma gota de chuva há um ano e meio.
Clima inóspito, altitude desafiadora e a resistência à alimentação diferente do paladar brasileiro - lá foi Silvânia para mais uma prova e, mais uma vez, para mais um ouro.
MOMENTOS MARCANTES
Apesar de toda a sua vida ter sido uma batalha, alguns momentos Silvânia leva em seu coração. Um deles foi quando disputava os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro.
Megafavorita, medalhista, recordista, a medalha de ouro de Silvânia era tida com certa. Além do fato de competir em casa, a pressão do favoritismo pesou.
No último salto sua adversária da Costa do Marfim teve um excelente desempenho! O time Marfinense comemorava a possibilidade de tomar o ouro da favorita da casa. Mas ainda havia o último salto de Silvânia.
O estádio estava em polvorosa quando Silvânia se virou aos espectadores, fez o tradicional sinal de "silêncio" com o dedo na boca. Ao dar a última passada ela já sabia que o ouro era dela. Também nas Olimpíadas do Rio foi prata no revezamento 4x100m feminino.
Convocada para o Pan de Lima, no Peru, Silvânia ainda competirá, em novembro, o Mundial em Dubai, nos Emirados Árabes. Se conseguir o ouro, estará automaticamente classificada para as Paralimpíadas de Tóquio, no Japão.
MAIS DINHEIRO, MENOS TEMPO
Já com dinheiro suficiente para ter uma vida confortável para si e para sua família, decidiu levar sua pequena ao Shopping para que escolhesse um presente. "Depois de tanta dureza eu disse a ela que escolhesse o que quisesse", lembra.
Mas a resposta não foi a esperada e fez seu coração balançar. "Eu queria que a mamãe me levasse e buscasse na escola", disse-lhe a filha. "Eu percebi que dinheiro não é tudo. Tem coisas simples e marcantes que nem todo o dinheiro do mundo compra, o tempo com a minha filha é uma dessas coisas", contou Silvânia.
Mesmo assim ela sabe que, apesar de poder dedicar menos tempo à família agora, seu esforço garantirá o futuro de seus filhos - além da menina, ela tem um menino de dois anos.
GRAÇAS AO LEITEIRO
Ao se ver como mulher, de origem pobre, negra e deficiente visual, Silvânia afirma que todos os nãos que levou durante toda a sua vida só fizeram com que ela tivesse ainda mais garra para chegar onde está hoje. Hoje ela é um dos grandes nomes do atletismo brasileiro e é patrocinada por gigantes como Petrobras, Loterias Caixa, Governo Federal e Braskem.
"Agradeço muito o leiteiro, se não fosse ele eu não teria começado a correr para quitar aquela dívida" conta Silvânia, às gargalhadas.
Fonte: Perfil News
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